Reestruturação

Os tempos mudaram, mas as instituições globais ainda são as mesmas
A decadência do Banco Mundial, do FMI e da própria ONU mostra que novos países, como o próprio Brasil, exigem espaço no cenário de representatividade internacional antes dominado pelas nações desenvolvidas.

Nos dias finais da Segunda Guerra Mundial, os países vencedores, liderados pelos Estados Unidos, fizeram uma reunião em território americano para discutir como ficaria a nova ordem global. Dilacerados pela extensa e sangrenta guerra, os países europeus, como Inglaterra e França, aceitaram passivamente as sugestões americanas. O encontro ficou historicamente conhecido como “Conferência de Bretton Woods”.

Como resultado, o dólar se tornou a moeda internacional, utilizada nas incontáveis transações comerciais e financeiras diárias. Além disso, foram criadas duas importantes instituições globais, uma voltada para o aconselhamento econômico de adequação ao livre-mercado, o FMI (Fundo Monetário Internacional), e outra voltada para a formulação de políticas de reconstrução dos países destruídos pela guerra, o Banco Mundial. Hoje, o BM tem por objetivo promover avanços sociais nos países pobres.

Algum tempo depois, em 1945, ainda sob forte influência americana, foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas) para evitar que um conflito daquela magnitude ocorresse novamente. O objetivo da instituição é promover o diálogo entre as nações, principalmente das que estão em pé de guerra.

Essa estrutura pós-guerra perdura até os dias de hoje. Mas, como sabemos, o mundo sofreu enormes mudanças. Além da recuperação dos países europeus, com a criação de um grande bloco voltado para a integração econômica do velho continente, outros personagens surgiram com expressão no cenário internacional.

Os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), sigla criada por um economista de um grande banco de investimentos americano, que reúne as economias com enorme potencial de alcançar o grupo dos desenvolvidos nos próximos anos, estão em um processo de plena ascensão. Com exceção da Rússia, dependente da exportação de petróleo, os outros passaram pelo pior momento da crise sem grandes traumas, bem diferente do que ocorreu com o seleto grupo das nações desenvolvidas.

A consistência econômica faz com que Brasil, Índia e China insistam em uma reformulação da estrutura política que leve em conta a opinião de um número maior de países. Um dos poucos efeitos positivos da globalização foi fazer com que outras nações obtivessem algum destaque. Hoje, ao contrário daquele mundo anterior à dissolução da União Soviética, o poder global se fragmentou em uma quantidade maior de países. Os Estados Unidos não têm, de maneira nenhuma, a mesma influência que possuía ao final da Segunda Grande Guerra.

Os brasileiros, por exemplo, lutam para conseguir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, órgão das Nações Unidas que há muito tempo vive uma crise de credibilidade (a invasão do Iraque pelos americanos piorou a situação). O interesse do Brasil é opinar nos momentos de grandes ações internacionais, como a imposição de sanções comerciais, o envio de forças internacionais e a invasão de determinado país. Apenas cinco países têm esse privilégio, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China, já que são os únicos membros permanentes.

Muito mais importante do que o Conselho de Segurança é o aumento da representação dos países pobres e em desenvolvimento no Banco Mundial e no FMI. Ao longo da história, os americanos sempre presidiram o Banco Mundial, enquanto os europeus tradicionalmente ficaram com a presidência do FMI. É um acordo feito entre as duas maiores forças econômicas da história da humanidade desde o surgimento das instituições.

Enquanto não houver uma adequação do sistema político às profundas alterações econômicas, continuaremos vivendo em um mundo que está de cabeça para baixo. O FMI perdeu há muito tempo sua credibilidade. Os países, com razão, enxergam no fundo uma grande fonte de encrenca.

O liberalismo radical, através de uma receita que mistura ingredientes favoráveis aos grandes investidores e prejudiciais aos interesses da população, como privatizações em larga escala, corte de programas sociais, diminuição do tamanho do Estado e ausência do governo nas atividades do mercado, foi a política econômica que o FMI obrigou os países, principalmente os latino-americanos, a adotar para receber, durante os anos 80 e 90, os empréstimos de emergência da instituição. Com a inflação na casa dos milhares, corroendo o poder de compra do salário, esses países não tiveram escolha. O desespero fez com que colocassem em prática o até hoje temido neoliberalismo.

Já o Banco Mundial tenta desenvolver políticas sociais nos países que necessitam de ajuda, como a concessão de empréstimos, sob condições facilitadas, para o investimento, por exemplo, em saneamento básico. Sua maior luta, pelo menos no papel, está no combate à pobreza. Infelizmente, não está surtindo bons resultados, porque a fome, segundo a ONU, deve atingir a triste marca, um recorde, de 1 bilhão de pessoas no final deste ano.

Por fim, as Nações Unidas, com exceção do Conselho de Segurança, goza de algum prestígio. É a instituição global cujos países, sejam eles pobres, em desenvolvimento ou ricos, estão mais bem representados. Seu secretário-geral, o coreano Ban Ki-moon, tem uma boa reputação. Nos encontros internacionais, o maior representante da ONU discursa com fervor a respeito da perversidade de tantos seres humanos ainda passarem fome. No entanto, suas palavras estão longe de produzir políticas eficientes de combate às mazelas do mundo.

Para conversar com Bruno Toranzo, autor do texto, mande uma mensagem para o seguinte e-mail: brunovdpt@hotmail.com

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