Indecisão em Copenhague

O acordo do clima deve ficar para depois
Os países não conseguem se entender. Já se fala em compromisso bilateral entre os maiores poluidores como forma de escapar da pressão internacional pelo fim da dependência do carbono.

“Se houver vontade política, estou certo de que há um caminho para concluirmos um acordo em Copenhague”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no começo de novembro. Ou seja, a julgar pelo ritmo moroso das negociações, não teremos decisão alguma, entre os dias 7 e 18 de dezembro, na capital da Dinamarca. Os países, com exceção da França, não demonstram comprometimento para adotar medidas que atenuem o aquecimento terrestre.

Os Estados Unidos provavelmente chegarão ao encontro sem metas concretas. Mais uma vez, como ocorreu no Protocolo de Kyoto, os americanos relutam em assumir sua imensa responsabilidade no problema. Até agora, o Senado não aprovou o projeto de lei, chamado, em alusão aos sobrenomes dos parlamentares que o criaram, de Waxman-Markey, que fixa a redução das emissões de gases-estufa em 20% até 2020, utilizando como base os polêmicos níveis de 2005.

Para o Greenpeace, trata-se de um corte insuficiente. Na verdade, muito longe de ser suficiente. Ao considerar a porcentagem original de diminuição (a Câmara aprovou 17%; o Senado colocou mais 3%), isso equivale a uma redução de meros 4% em relação a 1990. O investimento em fontes renováveis também faz parte do projeto. De acordo com o documento de 1.200 páginas, cuja votação está completamente parada, as geradoras de energia elétrica terão de dar conta de 20% da demanda por meio de fontes renováveis, como solar e eólica, até 2020.

“Não está certo a União Europeia assumir a responsabilidade e os demais não”, criticou a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. A União Europeia tem várias propostas para apresentar. Como disse Merkel, o grau de comprometimento dependerá dos demais. Caso os europeus sintam que o acordo deste fim de ano será levado a sério pelos participantes, eles vão se comprometer a reduzir em 95% suas emissões em 40 anos. O bloco de 27 países tem como objetivo, independentemente do que faça o restante do mundo, diminuir em 20% as emissões nas próximas duas décadas. Ao contrário dos americanos, a UE leva em conta o ano de 1990 como base de comparação.

A China, assim como a Índia, não concorda que os países emergentes tenham metas obrigatórias. Com uma matriz energética extremamente suja, baseada no uso intenso de carvão, os chineses já ultrapassaram os Estados Unidos em termos de emissão dos gases do efeito estufa. Recentemente, o governo divulgou que pretende estimular as ações de baixo carbono, além de ampliar em 15% o uso de energias renováveis nos próximos 20 anos.

“Não temos o direito de permitir que o presidente Obama e que o presidente Hu Jintao (China) façam um acordo com base apenas nas realidades políticas e econômicas dos dois países”, defendeu Lula em encontro com o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Os chineses e americanos são responsáveis por 40% das emissões dos gases que aumentam a temperatura terrestre. Eles cogitam a assinatura de um acordo bilateral para fugir da cobrança internacional por metas arrojadas de diminuição da dependência do carbono.

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