Os chineses estão no caminho errado

A China optou pelo modelo de desenvolvimento do passado
O governo leva em consideração tão somente o crescimento econômico. A exemplo do que fizeram os países desenvolvidos, a China não quer saber de respeito ambiental e preocupação social.

As minas de carvão chinesas estão longe de serem seguras. Somente no ano passado, foram mais de 3 mil mortes em acidentes de trabalho. Os desabamentos, as inundações e as explosões são as principais causas do alto índice de mortalidade. A última tragédia ocorreu no nordeste do país. De acordo com a mídia estatal, mais de 100 pessoas morreram de forma quase instantânea.

Esses acidentes poderiam ser perfeitamente evitados. Na ânsia de produzir energia com rapidez, já que o governo tem por objetivo dar conta da demanda crescente trazida pelo robusto crescimento econômico, as medidas de segurança ficam de lado. Como o mundo inteiro sabe, os chineses têm no carvão sua principal fonte de energia, uma presença quase hegemônica na geração elétrica.

A verdade é que a China não cresce de maneira sustentável. Podemos chamar o modelo chinês, a exemplo do que ocorreu com a maior parte das nações desenvolvidas, de doentio. Apesar de se tornar cada vez mais forte, sob todos os aspectos de análise, no cenário internacional, esse gigante não faz questão de instaurar uma nova forma de desenvolvimento, fundamentada no respeito ao meio ambiente e às pessoas.

Mesmo que a economia chinesa cresça de uma maneira espetacular, ao avaliar os números referentes ao PIB (Produto Interno Bruto), não se pode dizer, muito longe disso, que a população goza de boas condições de vida. A evolução do PIB, a soma das riquezas produzidas e dos serviços disponibilizados por um país, de um ano para o outro não leva em conta os prejuízos ambientais e sociais causados para que se conseguisse tal aumento.

Ao olhar apenas para o PIB, a renda média real não pode ser medida. Como em tantos lugares do planeta, a sociedade chinesa é extremamente desigual. Ou seja: poucos ganham muito, e muitos ganham pouco. Isso pode ser constatado na diferença entre as regiões chinesas. Algumas cidades movimentam uma soma gigantesca de recursos financeiros, o que não significa que as pessoas, na média, vivam bem. Por outro lado, outras não são do interesse dos investidores. A ausência do mercado faz com que tenham índices de miséria preocupantes.

É por isso que muitos especialistas, com destaque para o economista Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel, defendem que o PIB não seja o único medidor da riqueza de um país. Quem investe (refiro-me aos empresários que efetivamente investem para criar empregos e aumentar a renda da população; não estou falando dos inescrupulosos especuladores) e aposta na seriedade de um país precisa, para Stiglitz e sua turma, avaliar as condições de vida dos habitantes. Temos de parabenizar iniciativas como essa, porque serão importantes para que uma nova economia seja finalmente possível.

Por fim, para piorar a avaliação do desenvolvimento chinês, o governo, centralizado na figura do Partido Comunista, tenta desesperadamente manter seus cidadãos longe das fontes de informação. Em território do falecido líder Mao Tsé-Tung, não se pode discordar. Não há espaço para discussões. A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como forma de melhorar as relações entre os dois países, resultou em um exemplo do controle sobre as pessoas exercido pelos governantes chineses. Ao se encontrar com estudantes escolhidos a dedo pelos dirigentes comunistas, Obama precisou responder indagações que evidenciavam uma linha favorável ao regime.

Como já dissemos em publicações anteriores, a China não vai se comprometer com a redução das emissões dos gases de efeito estufa no encontro de Copenhague a ser realizado no começo do próximo mês. Infelizmente, os chineses já mostraram que não vão inaugurar um novo modelo de crescimento. Eles optaram pelo passado com o agravante de impedir, por meio da violência em muitos casos, a disseminação de qualquer posicionamento contrário à escolha.

Para conversar com Bruno Toranzo, o autor do texto, envie quantas mensagens desejar para brunovdpt@hotmail.com

0 comentários: